quinta-feira, 19 de março de 2015

     Confira a história do PT-MRL e do PT-MQH, dois Fokkers 100 da TAM que se acidentaram quase que simultaneamente.

     Então pessoal, hoje resolvi contar esse caso curioso da aviação brasileira. Todo mundo sabe, ou quase todo mundo, que os Fokkers foram sucesso no mundo inteiro, porém no Brasil sua reputação não é lá essas coisas. Boa parte da má reputação desse jato no país está atrelada a sua passagem pela TAM, e foi também nela que esse caso curioso aconteceu. Primeiro, vou falar brevemente sobre a história dessa aeronave na empresa, e depois falar sobre o caso desses dois aviões.

     Os Fokkers chegaram no Brasil por meio da TAM, que operou seu primeiro Fokker F-27 (PT-LAF) no dia 1º de fevereiro de 1980 (35 anos). É a partir dessa data, então, que começa a história dessas aeronaves no Brasil. A introdução dos Fokkers 100 também ocorreu pela TAM, porém isso foi dez anos depois do F-27, em 1990. O modelo era novo no mercado (havia sido lançado em 1983 e feito o primeiro voo em 1986), era o que a fabricante Fokker tinha de mais moderno para oferecer aos seus clientes.

     Na TAM, que ainda era uma aérea regional, o Fokker 100 foi o responsável pelo grande crescimento da empresa. Graças a ele, o que era uma pequena regional se transformou numa gigante do mercado, competindo com empresas como Varig, TransBrasil e Vasp. Ela chegou a operar mais de 50 aeronaves do tipo, e até 1998 sua frota era exclusiva de Fokkers.

     Nem tudo foram flores na passagem do Fokker pela TAM, essas aeronaves também protagonizaram alguns dos principais acidentes da empresa. O primeiro deles foi com o PT-MRK, em outubro de 1996, que vitimou 99 pessoas. Cerca de um ano depois ocorreu outro acidente, quando uma suposta bomba explodiu e abriu um buraco na fuselagem do PT-WHK em pleno voo, uma pessoa morreu. Já em 2001 outro acidente foi registrado, quando uma peça da turbina de um Fokker 100 se soltou e quebrou a janela da aeronave, matando uma passageira e deixando três feridos.

     Além desses acidentes, a passagem da aeronave pela TAM registrou ainda cerca de sete incidentes. Só três desses incidentes ocorreram em 2002, e será nesse ano que vamos nos concentrar. Ele foi o ano do ápice de problemas com a aeronave na aérea, e foi também quando esse caso bizarro aconteceu.

     O Fokker foi alvo de preconceito desde o seu primeiro acidente, porém sua reputação só ficou liquidada em 2002. Foi um ano atípico e que a TAM provavelmente quer esquecer, mas aqui estamos nós cumprindo o papel de lembrá-los (desculpe-nos, TAM). O primeiro incidente ocorreu em fevereiro (até aí tudo bem), mas em abril ocorre outros dois, com um intervalo de dez dias entre eles. No dia 30 de setembro, porém, a aérea consegue reduzir o intervalo de tempo entre os incidentes para 40 minutos.

     Os Fokkers de matrícula PT-MRL e PT-MQH foram os responsáveis por protagonizar esse caso no mínimo... curioso e bizarro. O primeiro fez um pouso de barriga em Campinas, e para não ficar por baixo o PT-MQH decidiu aterrizar em um pasto em Birigui, e a cereja do bolo foi o atropelamento de uma vaca. O caso foi tão curioso que a queda de um Embraer 120 da Rico, matando 28 pessoas, ocorrida no mesmo dia, acabou passando desapercebida (claro que o fato de que a imprensa não poupava esforços para demonizar o Fokker também ajudou a manter o foco nos incidentes).

     Depois dessa, a TAM jogou a toalha e decidiu começar a aposentar seus F100. Entretanto, isso não foi o fim da sua carreira no Brasil, ele continuou sendo operado por outras empresas como a Avianca (OceanAir), mas esta, devido a má reputação, decidiu rebatizá-lo de MK28, um jogo de palavras com o nome oficial da aeronave que é Fokker 28 MK.0100 (agora peço desculpa à Avianca por ter revelado seu segredo).

     Ainda hoje o avião é operado pela Avianca (OceanAir), mas já tem data para ser aposentado da frota, ele será substituído por aeronaves mais modernas da família A320. Infelizmente, esse avião se despedirá do Brasil carregando essa má reputação, fruto do medo imputado na população e da má gestão e do descuidado com as suas operações por parte de uma única empresa.

     Por fim, caros leitores, quero falar sobre a memorável e respeitosa trajetória que essa aeronave teve. Com essa postagem, não quis exercer o papel de mais um veículo de imprensa que mancha a imagem do F100. Muito pelo contrário. Contando seu histórico no Brasil e focando nesse fato curioso, tive a intenção de esclarecer que, se ela foi uma aeronave perigosa, a culpa foi da empresa que não zelou da forma correta por ela. Portanto, quis exercer o papel dos defensores do 'holandês voador', pois conheço sua trajetória no resto do mundo e sei que ele foi bem sucedido, tanto em grandes aéreas quanto no mercado executivo.

Nota: O PT-MRL se encontra no Museu TAM, que também possui um F-27 no seu acervo.

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